quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

NOVOS HORIZONTES...

Nyara Gissá
Estudante de Psicologia

Descobri como uma simples frase pode mudar a vida de uma pessoa e como um sorriso pode libertar uma alma, O que eu realmente gostaria de compartilhar são pequenos gestos e atitudes que mudaram a minha vida.

Quando eu desejo um bom dia para alguém de coração, eu também tenho um bom dia...

Quando acho que alguém precisa saber o quanto eu a amo, na verdade sou eu quem precisa dizer isso a elas, pois elas já perceberam esse  amor através de atitudes...

Aprendi que às vezes nosso coração erra, mas nós não devemos ignorá-lo porque ele também acerta, E nossa vida é constituída de erros e acertos...

Aprendi que na vida tenho muitos erros, mas que são esses erros que contribuem para que eu consiga o êxito...

Descobri que tenho pré-conceitos e que é necessária a luta contra eles para que eu me torne uma pessoa melhor...

Aprendi que não precisa estar perto para estar junto...
E que o perto nem sempre tá junto....

Aprendi que para amar uma pessoa, primeiramente eu precisava me amar e me abraçar com todas as imperfeições...

Descobri que nem sempre quando damos nós recebemos, mas para que um dia a gente receba é necessário dar...

Aprendi que o é necessário não é ter fé, mas exercitá-la.

TENHA UM EXCELENTE DIA!!!

sábado, 27 de novembro de 2010

RENATA VIEIRA REFLETE: ENTÃO OS MÚSCULOS SÃO SÍMBOLOS DE MAIOR VIRILIDADE? CULTO AO CORPO; ANABOLIZANTES; AUTO-ESTIMA.



Por Renata Vieira


Estudante de Psicologia



Estou estabelecendo um compromisso  comigo mesma. Consiste em ler toda manhã notícias, estou abrindo diariamente o Ne notícias ou Infonet e hoje, acabo de ler uma notícia que quero compartilhar, mas antes  de anexar pretendo tecer  alguns comentários sobre o assunto abordado.



O tema é: Campanha contra o uso de anabolizantes será reativada.


Ao ler essa reportagem  era inevitável lembrar de um amigo que faz uso dessas substâncias,  que  altera sua estrutura corpórea e muito mais, transmite uma falsa ilusão  de que "assim estou muito melhor"  e tudo isso me fez lembrar de um livro  de Augusto Cury,  intitulado  "A Ditadura da Beleza". Neste livro o autor explora os dramas vivenciados pelas modelos, que para manterem  um padrão de beleza,  se  autodistroem, mas essa destruição  é mascarada, e  a mídia vende esse padrão como  sinônimo de perfeição, e as pessoas  que não se enquadram nesse estereotipo de beleza se frustram  e iniciam uma luta acirrada para se adequar a essa  ditadura.


O que antes  parecia  ser mais evidente em mulheres, a vaidade descontrolada, a tentativa de se enquadrar a um modelo com maior aceitabilidade social, que está embutida a não aceitação do seu próprio corpo, hoje o público masculino  também vivencia essa ditadura.



Acho um máximo a metrasexualidade! O homem deve cuidar da aparência, estar bem cheiroso, bem vestido, com uma pele macia. Epa! Vamos parar por aqui. (risos!)



Entretanto, a postura que muitos jovens estão tendo, vai além da metrasexualidade. Ou seria uma metrasexualidade exacerbada?



Então os músculos são símbolos de maior virilidade? É possível, medir o poder de sedução através de um corpo malhado?  Tudo é válido desde que possa ser aceito e mais ser cobiçado?



O fato é que esse meu amigo, faz parte de uma parcela que cultua a forma. Esses jovens são reforçados socialmente. É só observar a exibição dos corpos ditos perfeitos vinculados pela mídia televisiva, que servem  de espelho para eles.

O problema  se desenvolve quando tudo é valido para adquirir "a forma perfeita" e surgem então "as poções milagrosas"  os denominados anabolizantes. E como um "truque de mágica" desenvolve-se as formas tão almejadas por esses jovens.


Meu amigo faz uso do Durateston, uma entre as várias opções existentes no mercado; A forma de aquisição, usando o linguajar do mesmo "é moleza!".



Essa campanha deve ser fortalecida. É necessária a divulgação das consequências do uso de tais "poções mágicas". São jovens que colocam em risco o bem mais precioso "A vida"  em troca da forma perfeita,  que proporciona auto-estima,  o sentimento de cobiça e assim "fazem sucesso com as garotas", e para manter esse sucesso é necessária uma "reaplicação da fórmula mágica" e esse processo os levam a inúmeros prejuízos futuros, entre eles  a impotência sexual, lesões no fígado e nos rins .

Espero que meu amigo  páre de fazer uso desses medicamentos.

Então amigos segue abaixo a reportagem.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

RESENHA: Resignificando as determinações históricas da seleção de pessoal


Autores:
Marcelo da Silva Barreto*
Renata Vieira**
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PAULON, Selmira Mainieri. Resignificando as determinações históricas da seleção de pessoal. Psicol. Cienc. Prof. v. 10 n.1 Brasília, 1990.


Graduada em Psicologia, Pós-graduada em Psicodiagnóstico pela PUCRS, Selmira Mainieri Paulon, também atua como psicóloga da Intersecção – Trabalho e Pesquisa em Psicologia Social em Porto Alegre-RS. Neste artigo, a autora problematizou o conceito de aptidão natural a partir de uma resignificação do conceito de natureza humana. Para isto ela fez uma retrospectiva histórica destes conceitos  partindo do surgimento da  Psicologia enquanto ciência até atualidade. Esta resignificação é colocada como fundamental na atividade de seleção de pessoal realizada pelo psicólogo organizacional e do trabalho.

Considera que a seleção de pessoal para determinada atividade se justifica na relação das aptidões humanas e as características inerentes a cada função, que requer a seleção adequada de determinado perfil para determinada função como forma de corresponder às exigências da atividade em si e favorecer a satisfação, neste aspecto, da pessoa que produz identificada com o que realiza. 

Uma outra consideração importante feita é de que o estudo e a compreensão das aptidões humanas são necessários para o melhor aproveitamento no trabalho. E que estes se dão no “campo psicológico”, sendo, portanto atribuição do psicólogo organizacional e do trabalho a seleção de pessoal.

Entretanto, levanta a questão: O que é a natureza humana e o que são as aptidões naturais no contexto do trabalho?

Fazendo uma retrospectiva histórica situará a construção do conceito de natureza humana com o surgimento da Psicologia, enquanto ciência, que data o final do século XIX e início do século XX, influenciada pela Escola de Pensamento dominante à época,  o Positivismo.
Coloca que o cognoscível que constituí a totalidade do universo é complexo. Por isso a necessidade de uma ordenação, que dê sentido e facilite a orientação para o conhecimento. Coloca ainda, que a construção deste conhecimento complexo se dá sobre estratégias múltiplas, com perspectivas que podem divergir e convergir em alguns aspectos do objeto cognoscível e suas relações com outros objetos. Assim se estruturam diversas linhas de pensamento na tentativa de produzir conhecimento a respeito a respeito da totalidade que constituí este universo.

Entre os diversos cognoscível está a relação do homem com o trabalho tornando-se objeto de estudo de várias ciências. A Psicologia se interessa por esta relação, pois foca o comportamento humano implícito nesta relação. 

Coloca que várias linhas de pensamento se ocuparam desta relação homem-trabalho. E uma das considerações feitas é de que o homem é capaz de produzir, e que a produção é a essência do trabalho. Segundo esta perspectiva, a atividade de selecionar pessoas para o trabalho a ser realizada pelo psicólogo só encontra sentido se for considerada esta essencialidade.

Assim, coloca ainda, que várias teorias foram desenvolvidas e deram suas contribuições relevantes, a seu tempo, à atividade psicológica de seleção de pessoal. Entre elas: A Teoria das Aptidões, através da Psicologia Diferencial; A Teoria da Divisão do Trabalho, através da Escola Marxista; A Psicotécnica e a Psicometria, através da Escola Positivista.

Considera também que tais linhas de pensamento que determinaram esta atividade poderiam também satisfazer melhor a compreensão da natureza humana, uma vez considerando esta prática psicológica como intercessora do homem com o seu modo de sobrevivência. Ressalta que isto não tem acontecido devido ao sentido que atividade tem tomado com bases em estudos práticos da Psicotécnica, que considera de modo limitado a relação “aptidões individuais para distintas profissões”. 

Assim, para compreender a Psicotécnica e a sua perspectiva da relação aptidão individual versus profissão, regressou-se ao final do século XIX aos laboratórios de Psicologia Experimental, onde a Psicologia cria laços estreitos com a Fisiologia. Ressaltando a predominância da Escola Positivista de Pensamento e Produção de Conhecimento considera-se que a Psicologia sofrera forte influência. A Psicometria é o reflexo da ênfase dada à medida, aos dados quantitativos, a objetividade, a previsibilidade, etc. 

Dando seqüência aos estudos realizados pela Psicologia Experimental, destacam-se os aqueles, realizados entre o final do século XIX e XX, sobre as diferenças individuais; as teorias fatoriais de inteligência, tipologias, etc. Além da contribuição de outras ciências sobre a hereditariedade, através de Galton, craniometria e antropometria, evolucionismo de Darwin.

A consideração das diferenças humanas reforçou a ideia de aptidões individuais. Aptidões estas cognoscíveis objetivamente ao modo positivista de conceber. Também consideradas biologicamente determinadas. As influências culturais que também constituem a personalidade não são consideradas pela Psicologia Positivista representada pela Psicotécnica. Uma Psicologia “subsidiária das ciências naturais e mais diretamente da Biologia”. Reflexo da influencia positivista – Escola de Pensamento que era dominante no meio científico à época. 

Ressaltando que os métodos Positivistas de produzir conhecimento científico eram pautados na concepção de um mundo físico, observável objetivamente. Daí os métodos quantitativos, a ênfase na medida, a necessidade de controle  e manipulação de variáveis, como forma de garantir a previsibilidade dos fenômenos. 

 Este pensamento dominante da Escola Positivista hierarquizou o conhecimento, que só era validado como científico se seguisse rigorosamente tais métodos. A Psicologia do final do século XIX e início do século XX se insere neste contexto seguindo tais paradigmas. Assim desvinculou-se da Filosofia e aproximou-se da Biologia e Fisiologia, ou seja, Ciências Naturais, que seguiam métodos positivistas, os mesmos utilizados na física clássica e na química.

Logo, o conceito de natureza humana para Psicologia Experimental, deste contexto, diz respeito aos aspectos biológicos e fisiológicos, que determinariam o comportamento humano.

À crítiva a esta ideia de natuerza humana é feita com base no pensamento marxista, que antagoniza este conceito quando defende que o homem é um sujeito  histórico, que produz, que realiza o seu destino. 

Assim, Marx tenta desconstruir a ideia dominante que atende os interesses da classe dominante e que legitima o poder de uns sobre os outros, ou seja, dos capitalistas sobre proletários. Uma vez que,  a crença no determinismo biológico distituí o homem do seu potencial de luta, não favorece a sua consciência e consequentemente o alienia.

Tal conceito de aptidão natural é considerado como retrógrada já que existe desde o século XV. Além de não considerar um determinismo biológico à aptidão, em outros termos, aptidão inata, não considera também um determinismo social ou ação combinada dos fatores. Por não considerar determinismos, ou seja, aspectos estáticos e definidores. Considerando-os desfavoráveis à compreensão das aptidões. 

Por outro lado, considera que a natureza humana é social, histórica e se desenvolve sobre o biológico, funções necessárias para agir sobre a natureza num processo de adaptação, transformação e construção do meio. Considera ainda o homem como “um projeto de vir-a-ser”, logo as aptidões são influenciadas por esta natureza humana, que se constituí histórica e socialmente e se transfoma continuamente no processo de existir.

Percebe como necessárias tais considerações para resignificar à seleção de pessoal tendo em vista a dinâmica que transforma continuamente a relação homem-trabalho. Partindo deste pressuposto, o psicólogo é um contribuinte da realização pessoal, do desenvolvimento, humano diante as condições de trabalho que o contexto capitalista oferece. Ressaltando que o psicólogo organizacional é um empregado, que desenvolve determinada atividade dentro de uma organização capitalista, mas que também é dever ético seu oferecer um serviço que proporcione bem estar a pessoas, a seres humanos. Além disso, na seleção de pessoal, o psicólogo deve considerar a oportunidade de conscientizar pessoas sobre seus projetos de vida, seus projetos profissionais, assim como as possibilidades concretas de realização deste a partir de seus trabalhos. 

Assim, a atividade de selecionar pessoas deve considerar as aptidões naturais, reflexo de uma natureza humana que se constituí histórica e socialmente transformando-se continuamente assim como seu contexto. Pessoas bem selecionadas significa pessoas identificadas com a atividade, e esta identificação passa por tudo que constituem estas pessoas. 

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 NOTA:
Marcelo da Silva Barreto é graduado em História e
graduando em Psicologia;

Renata Vieira é graduanda em Psicologia e
Estagiária da Secretária de Segurança Pública do Estado de Sergipe,
onde desenvolve trabalhos afins.



quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Psicologia: ciência e profissão – A avaliação da profissão, segundo os psicólogos da área organizacional

Acadêmica: Andréa Patrícia Rabelo Sousa


ANDRADE, Jairo Eduardo B. Psicologia: ciência e profissão – A avaliação da profissão, segundo os psicólogos da área organizacional. Versão impressa ISSN 1414-9893. Psicol. Cienc. Prof. V.10 n.1, Brasília, 1990.

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Borges-Andrade em pesquisa realizada com os dados dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia durante o período de 1985 a 1986 num universo de 2447 que respondeu ao questionário ressaltou como os psicólogos organizacionais avaliam o suas atividades profissionais.

Parte-se do pressuposto da insatisfação com o estado atual, tanto na remuneração quanto das atividades desenvolvidas com as condições sociais, econômicas e culturais da atuação deste profissional no exercício de sua profissão.


A análise que se empreende está colocada na perspectiva que passa pelo status profissional, as dificuldades profissionais, as diferenças entre a área organizacional e as demais áreas e os desejos de mudança profissional.
O status profissional mostra uma opinião favorável com relação ao item prestígio da profissão junto à comunidade, e uma pontuação menor com relação a adequabilidade da remuneração. Em comparação com outras áreas de atuação do psicólogo, verifica-se que a área organizacional é bem mais adequada do que as demais.


Os problemas organizacionais demandam da presença do psicólogo que saiba lançar mão dos conhecimentos acumulados da Psicologia em um contexto social e interdisciplinar. Então se verificou na pesquisa que as maiores dificuldades relativas à formação e experiência na área organizacional está ligada à falta de vivência administrativa e a falta de conhecimento da realidade sócio-econômica. Outras dificuldades sentidas tange na falta de informação de outros profissionais no papel do psicólogo como agente contribuidor dos processos. Esta última questão refere-se tanto aos profissionais organizacionais como de outras áreas ligadas à psicologia.


O exercício das atividades de trabalho pelo psicólogo organizacional têm sido restritos, precários e deficientes. Uma implicação colocada na pesquisa foi a falta de infra-estrutura para que o profissional possa desenvolver seu trabalho, isto vale para todas as áreas. Os limites no preparo para a atuação, em muitos cursos de Psicologia, não ultrapassam as linhas demarcadas pela seleção e orientação profissional, o que vale uma reflexão e postura deste profissional.

Outro ponto interessante e de menor avaliação refere-se à dificuldade pela discriminação sexual, como também a maior média refere-se das dificuldades provocadas pela política sócio-econômica do país.

Há um processo menor de estabilidade profissional entre os psicólogos organizacionais comparados ao de clínica e comunitário, como também é maior a discriminação sexual entre estes profissionais organizacionais.


Um dado importante é na satisfação em relação à profissão ou desejos de mudança, entre os psicólogos em geral e os da área organizacional. Verificou-se que o percentual dos psicólogos da área organizacional que desejam pela mudança de área dentro da Psicologia é bem maior do que nos outros campos de atuação. Estes colocam razões concernentes à insatisfação com as características sociais desta profissão, o que para os psicólogos em geral seriam as razões econômicas e de remuneração.


Em suma, a análise das atividades, responsabilidades e condições de trabalho do psicólogo organizacional possibilitará refletir sobre as especificações que são necessárias estabelecer no processo de formação. O profissional que se pretende não é aquele que vai ajustar-se mecanicamente às necessidades do mercado, mas um profissional capaz de restabelecer as condições que o mercado oferece, utilizando de modo competente os espaços que lhe são oferecidos.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

PRECONDIÇÕES SOCIOCULTURAIS PARA O APARECIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA NO SÉCULO XIX

Acadêmico:
José Nelson Braga da Silva

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A história nos mostra que através dos tempos o homem vem passando por períodos de crises que serviram como alavanca impulsionadora para seu desenvolvimento. Em meio a tantas mudanças nos cenários políticos sociais e culturais, o homem se viu numa dinâmica de introspecção que o fazia buscar novas formas de pensamento e criar possíveis alternativas que iriam auxiliá-lo neste novo contexto social. Sem saber que com esta demanda do saber, encontraria alguns conflitos que o levariam a crises antes desconhecidas. Crises estas encontradas com seu destaque nas diversidades culturais existente em cada época que levou ao próprio ser habituado a viver em sociedade através de sistemas de grupos, quando estes tinham em seus membros, partícipes que estavam presentes a todos os passos do processo de produção.


No final do século XVIII com a chegada do capitalismo, este mesmo homem torna-se destituído do grupo que habitava, e agora ingressado neste novo sistema de produção, passa a ter contato com uma pequena parte do todo, e sendo valorado como força de trabalho em um mundo gigantesco de possibilidades que o rodeiam. E de verdade aquela vida cheia de encantos perdeu muitos espinhos que a fez moléstia, e o indivíduo que ansiava a busca pela individualidade que oferecia possibilidades de reconhecimento, constatou que a liberdade não poderia ser vivenciada de fato. Ao mesmo tempo em que se vê obrigado a exercitar sua capacidade de experienciar suas potencialidades internas na adequação do que lhe for proposto para sua existência. Ele é obrigado a recorrer a experiências de solidão antes tão temida e ao mesmo tempo ansiada, para assim poder ter consciência de sua individualidade e possibilidade de compartilhar experiências.


Aquele indivíduo outrora possuidor de pensamentos utópico onde poderia ser livre para pensar e agir sobre sua vontade, percebe que sua vontade está fundada numa crise paradoxal que lhe remete ao pensamento de que antes era muito bom coabitar um espaço onde todos se preocupavam uns com os outros de certa forma mais ou menos intencional. E esta nova experiência individual trás implícita nas suas nuances uma maneira mais individualista de comportamento social.


Existe na contemporaneidade uma força propulsora para as experiências propriamente individuais, levado em conta que cada vez mais nós podemos desenvolver coisas sozinhas, como lermos, trabalhar, se conectar com o mundo sem sequer necessite estar ocupando o mesmo espaço físico. Desta forma temos encontrado grandes avanços que possibilitam cada vez mais o indivíduo desenvolver sua subjetividade de forma mais privatizada. Um indivíduo pode fazer transações diversas através do computador, telefones e se relacionar com outros que compartilham as mesmas idéias e experiências subjetivas.


Encontramos forte comprometimento por parte do estado e das agências de controles sociais em fortalecer cada vez mais as experiências individuais visando conhecer a psicologia científica e as múltiplas formas de se observar a imaginação, sentimento, desejo, e o modo de funcionamento desta determinada individual ou coletiva. Para assim, cada vez mais as múltiplas conexões puderem ser efetivamente conhecidas e experienciadas por um maior número de pessoas dentro do espaço de tempo.



NOSSOS MOMENTOS JUNTOS 3 - AULA SOBRE O TESTE DE PERSONALIDADE "PMK" COM A PROFESSORA ROSELI RODELA

Esta aula foi realizada no sábado 16 de outubro de 2010.
Foi uma manhã bastante enriquecedora e também bem divertida.

Um clique para Nyara e a Professora Roseli Rodela!












NOSSOS MOMENTOS JUNTOS 4 - HORA DO LANCHE - INTERVALO DA AULA DO SÁBADO 16/10/2010 C0M A PROFESSORA ROSELI RODELA














domingo, 17 de outubro de 2010

NOSSOS MOMENTOS 6 - AULA DO SÁBADO DIA 16/10/2010 COM A PROFESSORA ROSELI RODELA

Um clique para a Professora Roseli Rodela e o Acadêmico Marcelo Bhárreti




Um clique para a Acadêmica Bruna e o Enigmático Samuel Rosalvo.


Olhem as caras deles!
PSICOPATAS!
(rsrsrsrsrsrs)









sexta-feira, 15 de outubro de 2010

RESENHA : A avaliação da profissão, segundo os psicólogos da área organizacional


Autoria:

Marcelo da Silva Barreto*

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ANDRADE, Jairo Eduardo Borges. A avaliação da profissão, segundo os psicólogos da área organizacional. Psicol. cienc. prof. v.10 n.1 Brasília 1990.

A o texto apresenta e discute dados da pesquisa que se objetivou em avaliar o exercício da profissão segundo os psicólogos organizacionais. Buscando caracterizar o perfil destes profissionais segundo os critérios de: formação, atuação e das condições de trabalho. Para isto foram utilizadas três dimensões: status profissional, dificuldades no exercício profissional e desejos de mudança A amostra compunha de 2447 psicólogos durante os anos de 1985 e 1986.

Quanto o Status Profissional observou-se que os psicólogos organizacionais consideram sua atividade profissional relevante à comunidade, entretanto consideram também sua remuneração inadequada à atividade. Observa-se que esta é uma consideração comum entre psicólogos de áreas diferentes.

Em relação às Dificuldades Profissionais os psicólogos relataram como sendo uma das maiores dificuldades encontradas referente à formação e a experiência, no que se refere à falta de uma vivência administrativa. Cita-se também sobre a dificuldade na relação deste profissional com outros que desconhecem a contribuição do psicólogo na organização. Verificado que a interferência de outros profissionais no trabalho do psicólogo é maior nas organizações do que em outros campos de atuação deste profissional. As dificuldades também permeiam as condições de trabalho, além das condições sociais, econômicas e culturais.

No que se refere aos Desejos de Mudanças à pesquisa buscou avaliar a satisfação na profissão. Assim os resultados encontrados contemplam o questionamento sobre os que gostariam de mudar de: área de atuação dentro da psicologia correspondendo a 12%; Trabalho (emprego), permanecendo na mesma área de atuação correspondendo a 23,9%; e Profissão correspondendo a 4,8%. Percebeu-se com os dados percentuais que os psicólogos organizacionais insatisfeitos com sua área correspondem a número maior do que outros profissionais de psicologia em demais áreas.

As razões para esta insatisfação foram agrupadas em cinco categorias de respostas, que são: a) Razão de mercado /ou oportunidade correspondendo a 11,2%; b) Interesse por outras profissões (medicina, biologia, fonoaudióloga, processamento de dados, ciências exatas). Correspondendo a 11,2%; c) Razões psicológicas pessoais (motivação, decepção, desilusão, frustração, realização, gratificação, vocação) correspondendo a 18%; d) correspondendo a 18%; d) Razões econômicas e de remuneração. Insatisfação com características sociais da profissão (valorização, burocracia, restrição, desgastes, competição, desprestígio, credibilidade, resultados imediatos, elitização, seriedade). Correspondendo a 18%. Outros razões correspondem a 5,6%.

De maneira geral, considerando os resultados concluiu que os psicólogos organizacionais avaliam sua profissão como sendo uma área que oferece mais recursos, melhor remuneração e estabilidade profissional que outras áreas. Apesar das dificuldades encontradas. O autor considera que as insatisfações encontradas não se justificam por estas dificuldades, mas pelas características sociais e principalmente pela “discrepância” entre formação acadêmica e mercado de trabalho. Onde a formação volta-se mais para a área clínica e atuação liberal enquanto que o mercado oferece emprego na área organizacional com remunerações consideráveis.


REFERÊNCIA

ANDRADE, Jairo Eduardo Borges. A avaliação da profissão, segundo os psicólogos da área organizacional. Psicol. cienc. prof. v.10 n.1 Brasília 1990. Disponível em: www.scielo.org. Acesso em: 10/10/2010.

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NOTA

* Marcelo da Silva Barreto é graduado em História pela Universidade Tiradentes e graduando em Psicologia (6º período) pela Faculdade Pio Décimo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CONFLITOS - O DESEJO E A VONTADE

Alguma vez você já se deparou procurando um botão liga-desliga do coração?
Àquelas vezes em que tudo o que queríamos era não sentir o que estamos sentindo.
E que dá uma vontade de dizer: Pára tudo!
Mas, o tal do liga-desliga do coração, nada!

Nem sempre nossos comportamentos acompanham nossos sentimentos. Parece existir um tempo para cada um, apesar da relação estreita entre os dois.

Quantas vezes somos incongruentes, ou seja, nos comportamos em desacordo aos nossos sentimentos.
Outras vezes somos hipocrítas, quando falseamos nossos verdadeiros sentimentos.

Surge o CONFLITO!

Quando de uma lado encontra-se o DESEJO e de outro encontra-se a VONTADE.

Mas, o que seria o desejo, o que seria a vontade?

O Desejo é a força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao Foco-Estímulante. Conscientizada objetivamente pela declaração verbal "Eu quero", e vivida subjetivamente pelas emoções e sentimentos. Predominantemente INCONSCIENTE, a base que a estrutura é uma LÓGICA SENTIMENTAL-EMOCIONAL.

A Vontade também é uma força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao Foco-Estímulante, só que diferentemente do desejo é predominantemente CONSCIENTE e objetivamente declarada verbalmente pela expressão "Eu devo", justificada pelos valores e crenças, tendo por base estrutural uma LÓGICA RACIONAL.

Quando estamos em conflito, nos percebemos desintegrados, fora de eixo, perdemos a paz.
O conflito é uma experiência do tempo presente, nos traz uma sensação de desconforto emocional, representada pela pressão interna para resolução do mesmo.

A CULPA é desfecho provisório, que surge como resultado de uma decisão, ou o DESEJO ou VONTADE, ou SENTIMENTO ou a RAZÃO. A culpa é alternativa inconsciente para o CONFLITO, pois reintegra o SER unindo os opostos DESEJO-VONTADE. É a menor distância entre um e outro.

É a solução mais inteligente?

Eu diria que não se trata disso, uma vez que se processa nas dimensões inconscientes do ser, ou seja, não se opera na lógica racional consciente, apenas conscientiza-se dela.

Cadê o botão liga-desliga do coração?

Desligar o coração, também não resolve, pois seria uma tentativa ou de negar o sentimento, ou de menos prezá-lo diante a razão. A unilateralidade não é uma solução inteligente.

Melhor seria o esforço para se conhecer melhor. Rever valores e crenças, conhecer padrões internos de pensamentos, sentimentos e emoções e gerenciá-lo.

Gerenciá-lo, como?

Reconhecendo-o, identificando-o e canalizando-o suas energias para experiências compensatórias.

Um exemplo básico:

Muitas pessoas reconhecem o valor de uma dieta equilibrada e a prática de atividades físicas para saúde como um todo. Entretanto, dispor-se a isto significa mudar alguns hábitos o que pode gerar CONFLITO.

De um lado o DESEJO representado pela força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao FOCO-ESTIMULANTE que proporcia prazer imediato na satisfação do mesmo, no caso, a injestão aleatória de alimentos. Se conscientiza o desejo pela expressão "Eu quero comer isto" e justifica-se pela satisfação imediata proporcionada.

Do outro lado, a VONTADE representada pelo valor dado uma vida saudável. Argumentada pela expressão " Eu devo comer isto".

Ficar dividido entre o DESEJO e a VONTADE é uma experiência presente e desagradável. A pressão interna nos leva a decidir.

Mas...

Atender o DESEJO e comer uma torna hiper-calórica gera a CULPA quando se tem a VONTADE de se manter uma vida saudável.
Por outro lado, negar o DESEJO e atender a VONTADE comendo duas fatias de pão integral também gera a CULPA de não ter tido o desejo satisfeito.

A CULPA é a solução provisória e consequencia primeira do CONFLITO. Ela une as partes opostas e integra o Ser Dividido. E apesar de ser uma vivência desagradável, consome menos energia do que a tensão do CONFLITO.
Ela é sempre o resultado da decisão unilateral que libera o fluxo energético através de atitudes e comportamentos apenas de uma das partes. Por isso a sensação de descompensação representada pela culpa. Não nos sentimos inteiros, porque uma parte de nós mesmos não foi atendida e a CULPA é a reprensentação desta descompensação, que mostra que um lado foi atendido mas que o outro continua existindo, e isto por mais absurdo que pareça ainda consome menos energia do que se manter divido no CONFLITO.

O que fazer?

Quem disse que eu sei?

Risos!

Conhecendo-se cada vez mais amplia-se POSSIBILIDADES, aumentando nosso CAMPO de AÇÃO: ATITUDE-COMPORTAMENTO.

Por que ao invés de comer uma torta inteira não comer apenas uma fátia?
E por que ao invés de se exigir 2 horas de atividades físicas, não respeitar o ritmo próprio, reflexo dos padrões anteriores e começar com 1 hora, gradativamente aumentando?

Comer apenas uma fátia pode não satisfazer 100% o seu DESEJO, mas também não lhe proporcionará 100% de culpa.
Fazer 1 hora de atividades físicas pode não satisfazer 100% a sua VONTADE dentro de seus valores e metas estipuladas, mas também estará respeitando seu TEMPO (condições e ritmos) e evitando, assim, 100% de culpa.

Esforçar-se pela conscientização dos DESEJOS e VONTADES e reconhecer que existem lógicas internas, como a sentimental-emocional no dinamismo inconsciente ,que fogem ao nosso controle e muitas vezes são antagônicas a lógica racional-consciente.

Por isso o esforço pela NEGOCIAÇÃO entre as partes pode ser um caminho possível.

Os CONFLITOS em si não são BONS nem RUINS, eles apenas SÃO.
Como lidamos com o conflito que definirá os resultados da experiência.

Não dá para desligar a culpa, como não dá para desligar sensação do conflito.

Logo se sentimos culpa e nos comportamos de forma auto-destrutiva tornamos o CONFLITO algo ruim, permanecendo descompensado e é uma questão de tempo para reativar o conflito.
Por outro lado, quando nos deparamos com a culpa, e aproveitamos para conhecer os dados informativos que emergem do inconsciente para o consciente, exercitando o processar destas informações, temos a chance de aprender muito sobre nós mesmos. Sobretudo de exercitar a NEGOCIAÇÃO, de experimentar o novo, de construir caminhos possíveis à realização de um Ser mais integrado diante os "diversos" de nós mesmos.

Por Marcelo Bhárreti.



sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O PROBLEMA DO “HOMEM” E A DISPERSÃO NA PSICOLOGIA


Marcio Luiz Miotto
Doutorando em Filosofia (UFSCAR)

Resumo: Esse artigo busca oferecer um panorama de problemas relativos à existência da psicologia, a partir das questões de sua unidade, especificidade e objetividade. Para isso, analisam-se breves menções a figuras clássicas de sua história (como Wundt, Comte, Watson e Vygotsky), mostrando ambigüidades constitutivas do próprio “nascimento” da psicologia como disciplina “una” e “científica”. Ao perguntar sobre as razões da dispersão da psicologia, seu estatuto ambíguo e seu objeto “complexo”, abrimos no final o problema de que, mais do que resolver internamente uma ambigüidade constituinte, é propriamente fora da ciência ou dos procedimentos ditos “tradicionais” de história da psicologia, que as condições de surgimento dessas ambigüidades – e da própria psicologia enquanto “ciência humana” – podem ser evidenciadas. Daí o apontamento conclusivo que sugere a importância de uma visita rigorosa às análises da modernidade empreendidas por Michel Foucault, para além dos portões das perspectivas históricas e epistemológicas.

Palavras-chave: História da Psicologia, Crise da Psicologia, Epistemologia da Psicologia, Michel Foucault.


No início do século XX, Ebbinghaus (citado por Luria 1992, p. 7) afirma que a psicologia “tem um longo passado, mas uma história curta”. Longo passado resultante de longínquos parentescos, entre conceitos e contribuições de autores que culminariam numa curta história, iniciada por uma vitória: a psicologia enfim libertou-se de suas amarras metafísicas e filosóficas, e tornou-se uma ciência. Wundt (1897, p. 1) já inicia seu Resumo de Psicologia afirmando que a ciência que o atribui como o primeiro psicólogo, reconhecida a partir dele “como um grande departamento da investigação científica”, finalmente alcançaria distinção – e, portanto, especificidade – tanto em relação à esfera das ciências naturais quanto das teorias metafísicas, com seu próprio método. Wundt teria inovado ao unir o empirismo britânico e os trabalhos no campo da astronomia - que exigiam uma explicação a respeito da questão dos sentidos - com a descrição dos cientistas alemães sobre como se dava o funcionamento dos mesmos.

Em outras palavras, Wundt teria por mérito unir uma concepção associacionista da mente com o método de observações controladas e programadas de um laboratório (Luria, 1992, p. 10). Pelo método introspectivo – cuja origem poderia ser reportada já a Sócrates, porém em Wundt com a inovação de ser experimental –, os elementos constituintes da experiência consciente poderiam ser analisados em sua constituição mais simples, sensações e sentimentos. Poder-se-ia descobrir como esses elementos se organizam, e quais as leis de conexão dessa organização. O “surgimento” da psicologia denotaria uma “espécie de química da consciência” (Marx & Hillix 1973/1993, p. 153).

Em suma, pela tradição da psicologia – “tradição” que obedece a uma série de temáticas tão presentes quanto insuspeitas, dos manuais mais comuns até alguns célebres livros de história – Wundt seria considerado como uma espécie de “primeiro psicólogo”1, atribuindo especificidade a essa ciência emergente. Tendo a introspecção rigorosamente mensurada como método e a consciência como objeto (uma consciência que é mais que a soma de seus elementos, porém possível de ser reduzida, analisável em elementos) a ciência psicológica conseguiria se diferenciar tanto da filosofia, quanto da biologia e da sociologia. Em relação à filosofia, a ciência da mente enfim alcançaria a objetividade de um método experimental; o conceito de consciência protegeria a psicologia de um reducionismo biológico; e o fato de ser uma ciência da consciência imersa em cada indivíduo a oporia em relação à sociologia.

Entretanto, o sucesso inicial relativo à questão da introspecção e ao estudo controlado de sensações e sentimentos encontrou uma dificuldade metodológica: a impossibilidade de mensuração dos processos mentais superiores, como os hábitos lingüísticos, a aprendizagem e a memória. Experimentalmente, era possibilitado o acesso à experiência imediata, “tal como é dada à pessoa que observa” (Boring & Herrnstein 1966/1971, p. 736); porém a experiência mediata, que “só se torna possível depois da abstração do fator que está presente em toda experiência real” (Wundt 1896, citado por Boring & Herrnstein 1966/1971, p. 737, grifo meu) é um ponto intencionalmente afastado pela psicologia, por não implicar em extensões físicas:

Em psicologia, verificamos que somente aqueles fenômenos mentais que são diretamente acessíveis às influências físicas podem se tornar objeto de experimento. Não podemos experimentar sobre a mente em si mas tão-só sobre as suas extensões físicas, os órgãos dos sentidos e do movimento que estão funcionalmente relacionados com os processos mentais. (Wundt 1894/1907, p. 10).

Esse insucesso (ou mesmo medida intencional) relegado ao desenvolvimento da psicologia teria forçado Wundt a dividir a psicologia em dois domínios: um experimental, herdado das ciências naturais e realizado em laboratório a partir do conceito de introspecção; e outro domínio, impossível de adquirir status de experimental, denominado Völkerpsychologie, psicologia “social”, “cultural”, “étnica” ou “dos povos”. A psicologia figuraria, no mesmo momento em que atingiu sua especificidade (com o método experimental), sob uma tensão frente à sua unidade metodológica ou mesmo de seu objeto. Sendo manifesto por Wundt que as funções mentais superiores, inacessíveis ao método introspectivo, deveriam ser tema da Völkerpsychologie ou mesmo da antropologia, como afirmar a ciência psicológica como uma unidade, oposta às teorias literárias, à filosofia e à fisiologia, de forma que as funções superiores devam ser inteligíveis por métodos que não os de uma ciência experimental?

Cria-se uma tensão entre o projeto de uma psicologia científica – que pretende mensurar experimentalmente como se constitui a consciência – e seus resultados, que apontam para a impossibilidade de que a introspecção rigorosa obtenha esse êxito. Tal problema, entretanto, não é encontrado apenas em Wundt, mas atravessa todo o final do século XIX, e com ele problematiza-se também a emergência da Psicologia. O debate entre a Psicologia dita científica e a Psicanálise, por exemplo, ilustra junto ao caso de Wundt um dilema bem conhecido no século XX: “se a psicologia se faz como ciência, não se faz como psicologia; e se ela se faz como psicologia, não se faz como ciência” (Abib 1996, p. 143). Resumindo, a psicologia científica critica a psicanálise por não ser ciência; por sua vez, a psicanálise denuncia que a psicologia científica não conseguiria sair do estudo de elementos simples em direção às funções mentais complexas. Problema esse que se relaciona com o projeto de uma psicologia positiva, “tensão essencial” que perdura até a atualidade, e cujas tentativas de resolução resultaram numa grande dispersão entre as disciplinas psicológicas.

Reportando-nos a uma data um pouco anterior ao período em que a maioria dos historiadores da psicologia delimitam sua disciplina já nascida e delimitada, encontra-se no programa da ciência positivista o reconhecimento da impossibilidade de uma psicologia. Comte, em seu Curso de Filosofia Positiva, teria negado categoricamente que a psicologia pudesse ser ciência.2 Diante da biologia como ciência do indivíduo, e da sociologia como ciência da organização social, não haveria necessidade de uma especificidade psicológica: Em sua classificação das ciências em física inorgânica e física orgânica e, mais particularmente, no campo desta última, nenhum lugar é previsto para um conhecimento específico da organização mental, entre as ciências que se ocupam da organização social e política e as que se ocupam da organização fisiológica. O homem, animal histórico herdeiro de uma tradição, explica-se, segundo ele [Comte], em sua animalidade, pela fisiologia das funções orgânicas e, em sua dimensão cultural, pela sociologia como ciência da história intelectual e moral (...). (Bernard 1973/1974, p. 22).

Entretanto, como observa Bernard, no mesmo movimento em que o projeto comteano negava a existência de uma psicologia, emergiram psicologias como as de Herbart, Broussais e Helmholtz. O “veto” de Comte consistiria em não reconhecer a possibilidade de uma ciência psicológica introspeccionista, já que esta implicaria a “contemplação ilusória do espírito por si mesmo” (Bernard 1973/1974, p. 23). Uma ciência “da alma”, das “funções mentais” e “morais” poderia ser acessada pela perspectiva positivista, mas nunca como “ciência do sujeito” observando a si mesmo, e sim por via de da observação externa do indivíduo. Tarefa propriamente relegada à biologia, abordar a alma como se aborda a noção biológica de “vida” (Bernard 1973/1974, p. 23). Constitui-se à psicologia, enquanto ciência que positivamente não pode adquirir um status de “ciência do sujeito” – e assim, adquirir sua especificidade, irredutível à biologia –, um dilema considerado insuperável:

Ou a psicologia pretende manter sua especificidade epistemológica, entrando assim em choque com a metafísica e com o discurso literário; ou então submete seu objeto ao método positivo, e converte-se em ciência da natureza, não sendo mais ciência do sujeito (Bernard 1973/1974, p. 23).

Como ocorre na afirmação anterior entre o debate psicanálise/psicologia científica feita por Abib, e no gesto de Wundt que estabelece sua Völkerpsychologie, no momento mesmo em que a psicologia atinge sua especificidade como ciência do sujeito – como disciplina que aborda as funções mentais superiores –, a ausência de um método positivo frente à consciência lhe confere um choque em relação à metafísica e ao discurso literário; porém, se a psicologia recua e insiste no método das observações exteriores, na mensuração e na experimentação, constituindo-se assim como “ciência”, constata-se a impossibilidade de dar conta rigorosamente das funções superiores, ao mesmo tempo em que a própria irredutibilidade frente à biologia é contestada.

Esse dilema em que a psicologia se situa entre o homem como fruto de natureza ou produto de uma cultura lhe confere um estatuto ambíguo, a partir do qual toda a dispersão da psicologia do fim do século XIX se assenta. A história da psicologia seria a “do conflito entre dois estilos de pensamento aparentemente antinômicos”, nos quais essa disciplina se dissolveria em “naturalismos” ou “humanismos”,3 ou ainda se oporiam (e se distribuiriam) em numerosas considerações também antinômicas: métodos mecanicistas ou finalistas, analíticos ou holistas, explicação ou compreensão, organicismo ou historicismo, etc.. De modo que, mesmo frente à psicologia emergente do século XIX, mais do que unidade, facilmente se detecta sua dispersão em numerosas outras “psicologias”.

Por conseguinte, a especificidade (e a unidade) da psicologia é ameaçada por um dilema essencial que se constitui pela oscilação das disciplinas diante da tensão entre duas perspectivas. Outros “perigos”, porém, são encontrados pela psicologia frente à pretensão de sua unidade: primeiramente, a heterogeneidade das origens das várias psicologias, já que essa jovem disciplina não surgiu como um projeto unitário ou de um consenso entre pesquisadores; em segundo lugar, a partir do momento em que o psicólogo se pretende como um cientista das funções mentais superiores, tem contra si sua própria linguagem, uma vez que abordaria as significações humanas com suas próprias significações, já estabelecidas. Contra esse dilema, e esses perigos, a própria história da psicologia ensaiou (e ensaia) tentativas de resolução, que vão desde a uma unificação de domínio até à pura aceitação da psicologia como uma multiplicidade de disciplinas em diferentes estágios de desenvolvimento.

A primeira opção (a de unificação de domínio) é ilustrada sobretudo com um caso paradigmático na história da psicologia: o projeto behaviorista, a partir de Watson. Para ele, o comportamentalista não reconheceria linha divisória entre o homem e os animais inferiores; assim, não haveria uma ênfase na introspecção como método por excelência da psicologia, já que a noção de consciência admitiria uma divisão entre homem/animal. As psicologias comparadas não se delimitariam para Watson apenas como disciplinas secundárias, a partir das quais os dados elementares extraídos do experimento com animais seriam apenas secundários, ou meios indiretos de analogia para pressupor dados complexos da consciência. O dado elementar adquire importância por si só, fora da esfera comparada. Em Watson, chegou à psicologia o momento crucial de “afastar toda a referência à consciência; em que já não precisa se iludir ao pensar que faz dos estados mentais o objeto de observação” (Watson 1913, citado por Boring & Hernstein, 1966/1971, p. 632).

Se a psicologia não obtém sucesso, em Watson é porque algo está errado com suas premissas e com os problemas decorrentes delas. E mais, ao serem vários psicólogos perguntados sobre o mesmo conceito, de cada um será obtida uma definição, devido às respectivas formações diferentes,5 outro problema de unidade da psicologia. Dessa forma, conceitos inapropriados e sem consenso como “consciência”, “mente” e “processos mentais” deveriam ser trocados por “estímulos e respostas”, “ajustamento”, “comportamento” e “hábito”. Nesse sistema ligado à psicologia comparada, os próprios dados objetivos é que “constituem a soma total da psicologia”; isto é, não seriam dados secundários a outros conceitos pressupostos (consciência, mente, etc.) e operacionalmente inatingíveis. Situação em que a psicologia do animal poderia desempenhar papel fundamental, ou mesmo seguir seu desenvolvimento à parte. Pelas noções de comportamento e de ajustamento, prevendo como o comportamento se estabelece e se desencadeia por estímulos e respostas, a psicologia poderia novamente unificar-se, ou insistir na discórdia e manter-se duzentos anos ainda dividida entre seus pré-conceitos destoantes.6


Esboça-se, portanto, um projeto no qual novamente a psicologia poderá, sob o novo caráter unificador do comportamentalismo, atingir o rigor de seus conceitos, de seus objetivos e de seu método, de forma compartilhada e organizada. Sob um caráter restritivo outorgado às outras possíveis psicologias, o behaviorismo evitaria a recaída da investigação a realidades não observáveis, viciadas por conclusões “metafísicas”. Porém, a própria história da psicologia aponta a insuficiência: uma seqüência mais proveitosa ocorreria ao behaviorismo watsoniano caso a negação (metodológica ou mesmo real) do conceito de consciência não fosse tão somente restritiva, e apontasse a soluções metodológicas efetivas. Em outras palavras, caso as análises em termos de adaptações e de predição em esquema S-R demonstrassem eficácia tanto para problemas da esfera animal, quanto humana. Sabe-se que, dado um estímulo S, em determinadas situações (como a de uma “alfinetada”), pode-se predizer uma resposta (como a sensação de dor); porém, em situações em que a resposta é, por exemplo, uma explanação verbal ou de âmbito emocional, torna-se inviável antever uma relação estrita entre um dado estímulo e uma dada resposta. Como no esquema de Wundt, apenas processos elementares – no caso, em Watson processos da alçada de uma psicologia animal – poderiam ser atingidos pelo método behaviorista. Portanto, permaneceria o problema relativo aos comportamentos mais complexos.

Bernard (1973/1974, p. 36) chama atenção ao fato de que, ao buscar eliminar um dualismo, Watson acaba criando outro: substitui “a dualidade da alma e do corpo pela do organismo e do meio”, fator que reduziria o comportamentalismo a um instrumentalismo. Do mesmo modo, a negação metodológica do conceito de consciência não pôde dar conta por si mesma de uma análise dos comportamentos mais complexos encontrados no homem (como vimos).

Uma outra tentativa conhecida de estabelecer um panorama entre as diferentes perspectivas psicológicas para daí tentar adquirir uma unidade provém não de um detrator da noção de consciência, mas de um entusiasta: Vygotsky, em um texto de 1926 (perdido até a década de 60 segundo Luria 1992, p. 45), estabelece um novo panorama da psicologia, para daí buscar novas possibilidades.

Para Vygotsky (1926/1999), a psicologia sofria de uma crise metodológica. Tal era a precariedade dessa disciplina que, citando Espinosa, referiu-se a ela como um estado de consciência que ocorre a “um doente que sofre de uma enfermidade letal, [que] prevendo a morte certa se não empregar determinado remédio, sente-se na contingência de procurá-lo, ainda que incerto, com todas as forças, pois que nele está sua única esperança” (Vygotsky 1926/1999, p. 228).

Faltava à psicologia uma unidade norteadora, a partir da qual os pesquisadores pudessem coordenar os dados pesquisados e sistematizar leis dispersas. Para isso o problema de uma psicologia geral (ou mesmo de uma “psicologia básica”) passaria a ser fundamental, como um remédio a partir do qual todos os outros dados deveriam ser agrupados. Haveria a necessidade de um “princípio explicativo”, pois “precisamente porque esse princípio falta e não existe que alguns princípios parciais ocupam seu lugar” (Vygotsky 1926/1999, p. 228). Princípios parciais estes que adviriam das antagônicas psicologias que tomam como critério de análise uma certa média de normalidade (tomemos como critério de análise uma média normal, como na psicometria, ou que todos os homens possuem patologias, como na psicanálise?); dos sistemas baseados na oposição homem/animal (os dados da psicologia animal são o ponto de partida para a elucidação do homem? Ou figuraria nas “formas superiores a chave da interpretação das inferiores”? (ib., p. 206); ou das teorias que pressupõem que o fundamento da psicologia residiria nos “fenômenos psíquicos” (para a psicologia tradicional), no comportamento (para a reflexologia) ou no inconsciente (para a psicanálise) (ib., p. 213). Para além desses princípios parciais, a “psicologia geral” deveria dar conta do que é geral a todos os homens, da mesma forma que o que é geral na botânica ou na zoologia estuda o que há de comum em todas as plantas e todos os animais. Dentro de todo o caos dos fenômenos pesquisados isoladamente, deveria-se estabelecer um “conceito abstrato e comum para todas as disciplinas psicológicas”, conceito que permita responder a séria pergunta sobre o que é que a psicologia como ciência geral (e não como amontoado de disciplinas particulares) estuda (ib., p. 212-213). Retomando, deve haver uma unidade que dê sentido a cada domínio, pois se cada uma das disciplinas particulares figurar como disciplina geral, a oposição entre as teorias tende a um valor nulo:

Esses destinos, tão semelhantes como quatro gotas da mesma chuva, arrastam as idéias pelo mesmo caminho. O volume do conceito aumenta e tende ao infinito e, de acordo com a conhecida lei da lógica, seu conteúdo tende com idêntica celeridade a zero. Cada uma dessas idéias é, no lugar que lhe corresponde, extraordinariamente rica quanto a seu conteúdo, está cheia de significado e sentido, está plena de valor e é frutífera. Mas quando as idéias se elevam à categoria de leis universais passam a valer o mesmo, tanto umas quanto as outras são absolutamente iguais entre si, isto é, simples e redondos zeros; a individualidade de Stern é para Békhterev um complexo de reflexos, para Wertheimer uma Gestalt e para Freud sexualidade. (Vygotsky 1926/1999, p. 227).

Isto é, para Vygotsky não haveria valor algum disciplinas parciais dentro de uma pretensa ciência sem uma unidade que lhes dê coerência; qualquer uma poderia ser reduzida à outra, e no mesmo movimento as explicações são mais incompatíveis que complementares. Tais problemas não parecem ter sido resolvidos, dada a nulidade resultante entre diferentes disciplinas em dispersão, e que persiste até a atualidade. Seria injusto com a história da psicologia situar essa tensão [É ciência? É psicologia?] apenas com relação à psicanálise. Ela também ocorreu nos redutos da própria psicologia científica. A existência simultânea de behaviorismo, gestaltismo, construtivismo e psicologia cognitiva implica programas diferentes de pesquisa. Isso significa que não há identidade de interesses intelectuais, objetos, métodos e teorias nesses programas. Essas diferenças produziram tensões entre eles, com conseqüências similares àquela entre psicologia e psicanálise. Por exemplo, por várias vezes se perguntou se o behaviorismo é psicologia ou se o construtivismo é ciência. (Abib 1996, p. 144).

Recordando William James, que em 1911 teria dito que “a psicologia ainda não é uma ciência, mas algo que promete ser ciência no futuro”, e Spearman, que repete as mesmas palavras de James em 1923, afirmando que a psicologia seria apenas “uma esperança de ciência” (Vygotsky 1926/1999, p. 402-403), a situação encontrada por Vygotsky é a de que “essa psicologia de que falamos ainda não existe; terá de ser criada e não por uma só escola” (ib., p. 417). A psicologia ainda terá para Vygotsky (como para James) seus gênios e investigadores modestos, mas de seu trabalho conjunto ainda surgirá algo que seja precisamente psicologia, una e específica.

Não se trata aqui de remetermos o texto a uma análise exaustiva da especificidade, da complexidade e das pretensões de cada domínio argumentativo (como o de Wundt, de Comte, de Watson ou de Vygotsky). Para isso, a análise exigiria um estudo detido de vários outros projetos de psicologia, bem como da situação dessa disciplina na segunda metade do século XX. Entretanto, os pontos elencados permitem levantar um território comum a tais discussões, recorrentes nas psicologias dos séculos XIX/XX. Debate que se apresenta como co-extensivo à própria existência de um projeto de psicologia, e que permanece até a atualidade: o problema de sua dispersão em um campo que se situa entre dois domínios diversos, de um extremo que conduz ao primado do conceito de “funções mentais superiores”, a outro que admitiria uma continuidade entre homem e animal, de forma que uma analogia de complexidade de processos simples poderia ser generalizada a processos “superiores”; o problema de sua undade, ou de como um grupo de disciplinas heterogêneas “parciais” (no termo de Vygotsky) pode adquirir o reconhecimento de um único corpo científico; o problema do critério para o estabelecimento dessa unidade (ou mesmo da recusa dessa unidade); a questão da especificidade do domínio psicológico; o problema da complexidade do objeto da psicologia, o Homem, ser que é por um lado produto determinado por uma natureza, e por outro possui uma autonomia no mundo como ser de cultura, cercado por determinações que o atravessam, e ao mesmo tempo possuidor de uma consciência que permite delimitar essas determinações; e problemas metodológicos que decorrem diretamente desse objeto “complexo” e “fugidio”.

Levantar e elencar problemas que permanecem constitutivos nos debates entre as diferentes psicologias parece, desde seus principais formuladores, uma tarefa importantíssima para o psicólogo na relação com seu campo de estudo. O próprio Luria, falando sobre Vygotsky, chama atenção ao fato de que, para o início de seu trabalho conjunto, empreendeu uma “revisão crítica da história e do status da psicologia na Rússia e no resto do mundo” (Luria 1992, p. 44). Dessa revisão crítica é que suas considerações avançaram com Vygotsky, rumo às psicologias sócio-interacionistas e à neuropsicologia soviética. Estas adquiriram considerável sucesso, juntamente com ciências como o behaviorismo radical, na tentativa de resolver esses embates. Mas a dispersão persistiu, e uma série de questões, no seio de todos esses debates, e dentro da psicologia em sua busca de seu rigor e especificidade, aparecem: A pergunta de Vygotsky, sobre se algum dia a psicologia poderia ser chamada de “a psicologia”, poderia ser num futuro vindouro afirmada positivamente? Dadas tantas antinomias, tão comuns no debate entre diferentes psicologias, teriam elas possibilidade de resolução? E mais, a própria psicologia, motivada ela mesma por essas antinomias na busca de sua resolução, poderia internamente responder o problema que move sua própria existência? Conseguiria a psicologia dobrar-se sobre si mesma para dar conta, em sua condição de dispersão, das próprias condições que a constituem enquanto dispersa?

O debate aqui fica acirrado, e as tentativas melhor sucedidas de uma resolução interna permanecem nas descrições dos epistemólogos. Em meados do século XX, buscando elucidar os princípios discordantes da psicologia, Georges Canguilhem afirma que, sem uma antropologia ou um viés filosófico que a sustente (enfim, um princípio de coerência), não se pode impedir “a quem quer que seja de se chamar psicólogo ou de chamar de psicologia o que ele faz”. Por outro lado, essa situação confusa não pode impedir a contrapartida do filósofo, de interrogar sobre o estatuto “mal definido da psicologia, tanto do lado das ciências, quanto das técnicas” (Canguilhem 1956/1975, p. 380). Tanto o problema da complexidade do homem, quanto da dispersão da psicologia, abre a dúvida sobre seu próprio estatuto, de ciência que interpõe conceitos sem um princípio geral unificador, a uma prática que também (pela dispersão conceitual) se finaliza contraditória. Daí, para Canguilhem, por ser ciência do homem, a psicologia situar-se na encruzilhada: deve decidir-se no caminho que vai desde a coerência conceitual, ao perigo de responder sobre o que faz (“dizei-me em que direção tendes, para que eu saiba o que sois?”, ib., p. 381).

Entre o problema conceitual, e a incerteza da prática, um outro autor elabora ainda em 1957 uma possível resposta, na qual o convite à análise epistemológica seria transpassado por outro tipo de análise. Perspectiva não epistemológica, e, portanto, de certo modo exterior a esses debates, por não exigir a princípio o critério da ciência como arquitetura conceitual fechada e formalizada. Trata-se de Michel Foucault, que ao analisar a psicologia de 1850 a 1950 em um pequeno artigo, encontra algo como contradições no mesmo nível das enunciadas acima, e pergunta-se:

Porém, a interrogação fundamental permanece. Nós mostramos, no início, que a psicologia “científica” nasceu das contradições encontradas pelo homem em sua prática, e que, por outro lado, o desenvolvimento dessa “ciência” consistiu em um lento abandono do positivismo que a alinhava, no início, com as ciências da natureza. Esse abandono e a análise nova das significações objetivas puderam resolver as contradições que o motivaram? (Foucault 1957/1999, p. 138).

A resposta para Foucault foi negativa, já que a saída das psicologias melhor sucedidas foi projetar essas ambigüidades, que não foram resolvidas, à própria existência humana: nas formas atuais da psicologia reencontramos essas contradições sob o aspecto de uma ambigüidade que se descreve como coextensiva à existência humana. Nem o esforço em direção à determinação de uma causalidade estatística, nem a reflexão antropológica sobre a existência podem ultrapassá-las realmente, quando muito, podem esquivar-se delas, quer dizer, encontrá-las finalmente transpostas e travestidas. (ib., p. 138-139).

A forma mesma sob a qual a psicologia encontra a existência humana parece, portanto, uma projeção dessas contradições enunciadas pela própria psicologia na formulação de seu projeto. Em outras palavras, e no limite, se a psicologia postula de um lado um homem “complexo”, fruto de determinações naturais e culturais, de outro lado constata, projetando o próprio problema de princípio, que o homem é um objeto complexo por ser “bio-psico-social”. Tais contradições projetadas animariam o movimento da psicologia no mesmo movimento em que a tornam “dispersa”. Contradições cuja resolução exigiria que a própria psicologia se dobrasse sobre si mesma e desse conta do debate que a faz persistir. Tal dobramento, entretanto, parece impossível, já que não se pode dar conta do que move uma questão utilizando esse próprio movimento como instrumento de resolução. A cargo da psicologia, sobre seu futuro, restaria efetivamente “levar a sério essas contradições, cuja experiência, justamente, fez [nascê-la]” (ib., p. 139). Ao levar a sério essas contradições, a resposta encontrada por Foucault é que “por conseguinte, não haveria desde então psicologia possível senão pela análise das condições de existência do homem e pela retomada do que há de mais humano no homem, quer dizer, sua hisória” (ib., p. 139, grifo meu). Como sustentará o próprio Foucault já no contexto de História da Loucura, e obedecendo a problemas decorrentes de seu primeiro grande livro, não será em um jogo interno à disciplina que os fenômenos psicopatológicos encontrarão sua condição de existência. Será “em outra parte”, na história, que as condições de surgimento da doença mental e da psicologia poderão ser encontradas, e elucidadas (1962/1984, p. 71). Uma análise dessa história - que não é mais a história de uma disciplina particular (“psicologia”), mas a história de como o homem pôde em algum momento tornar-se ao mesmo tempo sujeito e objeto de conhecimento, algo sobre o que se pode saber, ao mesmo tempo em que funda todo o conhecimento – e do modo como Foucault analisa essa história (ou seja, de sua arqueologia do saber, e da relação da arqueologia com o pensamento epistemológico e histórico propriamente dito) torna-se necessária. Isso por dois motivos: primeiramente demonstra como a psicologia é uma figura ao lado de outras figuras da finitude moderna, tributária de seus jogos; e em segundo lugar, demonstra como apenas essas contradições, frutos de um certo “desnível” do homem na relação consigo mesmo (o desnível de sua disfunção, de sua anormalidade, de seus desvios, etc.), é que podem tornar possível um saber como a psicologia. Levar a sério a análise foucaultiana da modernidade (que visa essencialmente as condições de possibilidade dos saberes) é perguntar-se sob que condições um saber sobre o homem pôde ser constituído. Dentro dessas condições é que o homem pode ser “detectado” em suas contradições, por uma ciência humana, ou por uma psicologia.

Referências Bibliográficas:

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______ (1897). Outlines of Psychology. In Classics in the history of Psychology, an internet resource developed by Christopher D. Green. York University, Toronto, Ontario. http://psychclassics.yorku.ca/Wundt/Outlines/ (acessado em 1/9/2007) Notas 1 Esse é um ponto deveras problemático. Dependendo do ‘recorte’ escolhido por cada historiador (geralmente, recortes de historiadores continuístas), pode-se encontrar alusões a outros autores como os inauguradores da psicologia, como Fechner, ou os egípcios, ou menções a Sócrates, etc.. Denota-se o caráter arbitrário desses ‘recortes’ por esse tipo de historiador. 2 Como frisam enfaticamente historiadores como Garcia-Roza (1977, p. 21) e Michel Bernard (1973/1974, p. 22); ou mesmo o próprio Comte (1996), quando trata da introspecção como “pura ilusão”, como um “sofisma fundamental” (p. 34), ou como “impossibilidade manifesta” (p. 36) de uma observação do homem de seus próprios fenômenos intelectuais. Cf. Comte (1996, p. 34-41). 3 Como afirma Bernard (1973/1974, p. 25), a partir de considerações de Lagache. 4 Cf. Bernard (1973/1974, p. 28) 5 “Já não existe qualquer garantia de que todos pensamos nas mesmas coisas quando usamos os termos atualmente em uso na psicologia (...)” (Watson, citado por Boring & Hernstein 1966/1971, p. 632). 6 “Acredito firmemente que daqui a duzentos anos, a não ser que se afaste o método introspectivo, a psicologia ainda estará dividida (...)” (Watson, citado por Boring & Hernstein 1966/1971, p. 633).
Artigo recebido em 27/09/2007 e aprovado em 10/12/2007.