quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CONFLITOS - O DESEJO E A VONTADE

Alguma vez você já se deparou procurando um botão liga-desliga do coração?
Àquelas vezes em que tudo o que queríamos era não sentir o que estamos sentindo.
E que dá uma vontade de dizer: Pára tudo!
Mas, o tal do liga-desliga do coração, nada!

Nem sempre nossos comportamentos acompanham nossos sentimentos. Parece existir um tempo para cada um, apesar da relação estreita entre os dois.

Quantas vezes somos incongruentes, ou seja, nos comportamos em desacordo aos nossos sentimentos.
Outras vezes somos hipocrítas, quando falseamos nossos verdadeiros sentimentos.

Surge o CONFLITO!

Quando de uma lado encontra-se o DESEJO e de outro encontra-se a VONTADE.

Mas, o que seria o desejo, o que seria a vontade?

O Desejo é a força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao Foco-Estímulante. Conscientizada objetivamente pela declaração verbal "Eu quero", e vivida subjetivamente pelas emoções e sentimentos. Predominantemente INCONSCIENTE, a base que a estrutura é uma LÓGICA SENTIMENTAL-EMOCIONAL.

A Vontade também é uma força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao Foco-Estímulante, só que diferentemente do desejo é predominantemente CONSCIENTE e objetivamente declarada verbalmente pela expressão "Eu devo", justificada pelos valores e crenças, tendo por base estrutural uma LÓGICA RACIONAL.

Quando estamos em conflito, nos percebemos desintegrados, fora de eixo, perdemos a paz.
O conflito é uma experiência do tempo presente, nos traz uma sensação de desconforto emocional, representada pela pressão interna para resolução do mesmo.

A CULPA é desfecho provisório, que surge como resultado de uma decisão, ou o DESEJO ou VONTADE, ou SENTIMENTO ou a RAZÃO. A culpa é alternativa inconsciente para o CONFLITO, pois reintegra o SER unindo os opostos DESEJO-VONTADE. É a menor distância entre um e outro.

É a solução mais inteligente?

Eu diria que não se trata disso, uma vez que se processa nas dimensões inconscientes do ser, ou seja, não se opera na lógica racional consciente, apenas conscientiza-se dela.

Cadê o botão liga-desliga do coração?

Desligar o coração, também não resolve, pois seria uma tentativa ou de negar o sentimento, ou de menos prezá-lo diante a razão. A unilateralidade não é uma solução inteligente.

Melhor seria o esforço para se conhecer melhor. Rever valores e crenças, conhecer padrões internos de pensamentos, sentimentos e emoções e gerenciá-lo.

Gerenciá-lo, como?

Reconhecendo-o, identificando-o e canalizando-o suas energias para experiências compensatórias.

Um exemplo básico:

Muitas pessoas reconhecem o valor de uma dieta equilibrada e a prática de atividades físicas para saúde como um todo. Entretanto, dispor-se a isto significa mudar alguns hábitos o que pode gerar CONFLITO.

De um lado o DESEJO representado pela força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao FOCO-ESTIMULANTE que proporcia prazer imediato na satisfação do mesmo, no caso, a injestão aleatória de alimentos. Se conscientiza o desejo pela expressão "Eu quero comer isto" e justifica-se pela satisfação imediata proporcionada.

Do outro lado, a VONTADE representada pelo valor dado uma vida saudável. Argumentada pela expressão " Eu devo comer isto".

Ficar dividido entre o DESEJO e a VONTADE é uma experiência presente e desagradável. A pressão interna nos leva a decidir.

Mas...

Atender o DESEJO e comer uma torna hiper-calórica gera a CULPA quando se tem a VONTADE de se manter uma vida saudável.
Por outro lado, negar o DESEJO e atender a VONTADE comendo duas fatias de pão integral também gera a CULPA de não ter tido o desejo satisfeito.

A CULPA é a solução provisória e consequencia primeira do CONFLITO. Ela une as partes opostas e integra o Ser Dividido. E apesar de ser uma vivência desagradável, consome menos energia do que a tensão do CONFLITO.
Ela é sempre o resultado da decisão unilateral que libera o fluxo energético através de atitudes e comportamentos apenas de uma das partes. Por isso a sensação de descompensação representada pela culpa. Não nos sentimos inteiros, porque uma parte de nós mesmos não foi atendida e a CULPA é a reprensentação desta descompensação, que mostra que um lado foi atendido mas que o outro continua existindo, e isto por mais absurdo que pareça ainda consome menos energia do que se manter divido no CONFLITO.

O que fazer?

Quem disse que eu sei?

Risos!

Conhecendo-se cada vez mais amplia-se POSSIBILIDADES, aumentando nosso CAMPO de AÇÃO: ATITUDE-COMPORTAMENTO.

Por que ao invés de comer uma torta inteira não comer apenas uma fátia?
E por que ao invés de se exigir 2 horas de atividades físicas, não respeitar o ritmo próprio, reflexo dos padrões anteriores e começar com 1 hora, gradativamente aumentando?

Comer apenas uma fátia pode não satisfazer 100% o seu DESEJO, mas também não lhe proporcionará 100% de culpa.
Fazer 1 hora de atividades físicas pode não satisfazer 100% a sua VONTADE dentro de seus valores e metas estipuladas, mas também estará respeitando seu TEMPO (condições e ritmos) e evitando, assim, 100% de culpa.

Esforçar-se pela conscientização dos DESEJOS e VONTADES e reconhecer que existem lógicas internas, como a sentimental-emocional no dinamismo inconsciente ,que fogem ao nosso controle e muitas vezes são antagônicas a lógica racional-consciente.

Por isso o esforço pela NEGOCIAÇÃO entre as partes pode ser um caminho possível.

Os CONFLITOS em si não são BONS nem RUINS, eles apenas SÃO.
Como lidamos com o conflito que definirá os resultados da experiência.

Não dá para desligar a culpa, como não dá para desligar sensação do conflito.

Logo se sentimos culpa e nos comportamos de forma auto-destrutiva tornamos o CONFLITO algo ruim, permanecendo descompensado e é uma questão de tempo para reativar o conflito.
Por outro lado, quando nos deparamos com a culpa, e aproveitamos para conhecer os dados informativos que emergem do inconsciente para o consciente, exercitando o processar destas informações, temos a chance de aprender muito sobre nós mesmos. Sobretudo de exercitar a NEGOCIAÇÃO, de experimentar o novo, de construir caminhos possíveis à realização de um Ser mais integrado diante os "diversos" de nós mesmos.

Por Marcelo Bhárreti.



sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O PROBLEMA DO “HOMEM” E A DISPERSÃO NA PSICOLOGIA


Marcio Luiz Miotto
Doutorando em Filosofia (UFSCAR)

Resumo: Esse artigo busca oferecer um panorama de problemas relativos à existência da psicologia, a partir das questões de sua unidade, especificidade e objetividade. Para isso, analisam-se breves menções a figuras clássicas de sua história (como Wundt, Comte, Watson e Vygotsky), mostrando ambigüidades constitutivas do próprio “nascimento” da psicologia como disciplina “una” e “científica”. Ao perguntar sobre as razões da dispersão da psicologia, seu estatuto ambíguo e seu objeto “complexo”, abrimos no final o problema de que, mais do que resolver internamente uma ambigüidade constituinte, é propriamente fora da ciência ou dos procedimentos ditos “tradicionais” de história da psicologia, que as condições de surgimento dessas ambigüidades – e da própria psicologia enquanto “ciência humana” – podem ser evidenciadas. Daí o apontamento conclusivo que sugere a importância de uma visita rigorosa às análises da modernidade empreendidas por Michel Foucault, para além dos portões das perspectivas históricas e epistemológicas.

Palavras-chave: História da Psicologia, Crise da Psicologia, Epistemologia da Psicologia, Michel Foucault.


No início do século XX, Ebbinghaus (citado por Luria 1992, p. 7) afirma que a psicologia “tem um longo passado, mas uma história curta”. Longo passado resultante de longínquos parentescos, entre conceitos e contribuições de autores que culminariam numa curta história, iniciada por uma vitória: a psicologia enfim libertou-se de suas amarras metafísicas e filosóficas, e tornou-se uma ciência. Wundt (1897, p. 1) já inicia seu Resumo de Psicologia afirmando que a ciência que o atribui como o primeiro psicólogo, reconhecida a partir dele “como um grande departamento da investigação científica”, finalmente alcançaria distinção – e, portanto, especificidade – tanto em relação à esfera das ciências naturais quanto das teorias metafísicas, com seu próprio método. Wundt teria inovado ao unir o empirismo britânico e os trabalhos no campo da astronomia - que exigiam uma explicação a respeito da questão dos sentidos - com a descrição dos cientistas alemães sobre como se dava o funcionamento dos mesmos.

Em outras palavras, Wundt teria por mérito unir uma concepção associacionista da mente com o método de observações controladas e programadas de um laboratório (Luria, 1992, p. 10). Pelo método introspectivo – cuja origem poderia ser reportada já a Sócrates, porém em Wundt com a inovação de ser experimental –, os elementos constituintes da experiência consciente poderiam ser analisados em sua constituição mais simples, sensações e sentimentos. Poder-se-ia descobrir como esses elementos se organizam, e quais as leis de conexão dessa organização. O “surgimento” da psicologia denotaria uma “espécie de química da consciência” (Marx & Hillix 1973/1993, p. 153).

Em suma, pela tradição da psicologia – “tradição” que obedece a uma série de temáticas tão presentes quanto insuspeitas, dos manuais mais comuns até alguns célebres livros de história – Wundt seria considerado como uma espécie de “primeiro psicólogo”1, atribuindo especificidade a essa ciência emergente. Tendo a introspecção rigorosamente mensurada como método e a consciência como objeto (uma consciência que é mais que a soma de seus elementos, porém possível de ser reduzida, analisável em elementos) a ciência psicológica conseguiria se diferenciar tanto da filosofia, quanto da biologia e da sociologia. Em relação à filosofia, a ciência da mente enfim alcançaria a objetividade de um método experimental; o conceito de consciência protegeria a psicologia de um reducionismo biológico; e o fato de ser uma ciência da consciência imersa em cada indivíduo a oporia em relação à sociologia.

Entretanto, o sucesso inicial relativo à questão da introspecção e ao estudo controlado de sensações e sentimentos encontrou uma dificuldade metodológica: a impossibilidade de mensuração dos processos mentais superiores, como os hábitos lingüísticos, a aprendizagem e a memória. Experimentalmente, era possibilitado o acesso à experiência imediata, “tal como é dada à pessoa que observa” (Boring & Herrnstein 1966/1971, p. 736); porém a experiência mediata, que “só se torna possível depois da abstração do fator que está presente em toda experiência real” (Wundt 1896, citado por Boring & Herrnstein 1966/1971, p. 737, grifo meu) é um ponto intencionalmente afastado pela psicologia, por não implicar em extensões físicas:

Em psicologia, verificamos que somente aqueles fenômenos mentais que são diretamente acessíveis às influências físicas podem se tornar objeto de experimento. Não podemos experimentar sobre a mente em si mas tão-só sobre as suas extensões físicas, os órgãos dos sentidos e do movimento que estão funcionalmente relacionados com os processos mentais. (Wundt 1894/1907, p. 10).

Esse insucesso (ou mesmo medida intencional) relegado ao desenvolvimento da psicologia teria forçado Wundt a dividir a psicologia em dois domínios: um experimental, herdado das ciências naturais e realizado em laboratório a partir do conceito de introspecção; e outro domínio, impossível de adquirir status de experimental, denominado Völkerpsychologie, psicologia “social”, “cultural”, “étnica” ou “dos povos”. A psicologia figuraria, no mesmo momento em que atingiu sua especificidade (com o método experimental), sob uma tensão frente à sua unidade metodológica ou mesmo de seu objeto. Sendo manifesto por Wundt que as funções mentais superiores, inacessíveis ao método introspectivo, deveriam ser tema da Völkerpsychologie ou mesmo da antropologia, como afirmar a ciência psicológica como uma unidade, oposta às teorias literárias, à filosofia e à fisiologia, de forma que as funções superiores devam ser inteligíveis por métodos que não os de uma ciência experimental?

Cria-se uma tensão entre o projeto de uma psicologia científica – que pretende mensurar experimentalmente como se constitui a consciência – e seus resultados, que apontam para a impossibilidade de que a introspecção rigorosa obtenha esse êxito. Tal problema, entretanto, não é encontrado apenas em Wundt, mas atravessa todo o final do século XIX, e com ele problematiza-se também a emergência da Psicologia. O debate entre a Psicologia dita científica e a Psicanálise, por exemplo, ilustra junto ao caso de Wundt um dilema bem conhecido no século XX: “se a psicologia se faz como ciência, não se faz como psicologia; e se ela se faz como psicologia, não se faz como ciência” (Abib 1996, p. 143). Resumindo, a psicologia científica critica a psicanálise por não ser ciência; por sua vez, a psicanálise denuncia que a psicologia científica não conseguiria sair do estudo de elementos simples em direção às funções mentais complexas. Problema esse que se relaciona com o projeto de uma psicologia positiva, “tensão essencial” que perdura até a atualidade, e cujas tentativas de resolução resultaram numa grande dispersão entre as disciplinas psicológicas.

Reportando-nos a uma data um pouco anterior ao período em que a maioria dos historiadores da psicologia delimitam sua disciplina já nascida e delimitada, encontra-se no programa da ciência positivista o reconhecimento da impossibilidade de uma psicologia. Comte, em seu Curso de Filosofia Positiva, teria negado categoricamente que a psicologia pudesse ser ciência.2 Diante da biologia como ciência do indivíduo, e da sociologia como ciência da organização social, não haveria necessidade de uma especificidade psicológica: Em sua classificação das ciências em física inorgânica e física orgânica e, mais particularmente, no campo desta última, nenhum lugar é previsto para um conhecimento específico da organização mental, entre as ciências que se ocupam da organização social e política e as que se ocupam da organização fisiológica. O homem, animal histórico herdeiro de uma tradição, explica-se, segundo ele [Comte], em sua animalidade, pela fisiologia das funções orgânicas e, em sua dimensão cultural, pela sociologia como ciência da história intelectual e moral (...). (Bernard 1973/1974, p. 22).

Entretanto, como observa Bernard, no mesmo movimento em que o projeto comteano negava a existência de uma psicologia, emergiram psicologias como as de Herbart, Broussais e Helmholtz. O “veto” de Comte consistiria em não reconhecer a possibilidade de uma ciência psicológica introspeccionista, já que esta implicaria a “contemplação ilusória do espírito por si mesmo” (Bernard 1973/1974, p. 23). Uma ciência “da alma”, das “funções mentais” e “morais” poderia ser acessada pela perspectiva positivista, mas nunca como “ciência do sujeito” observando a si mesmo, e sim por via de da observação externa do indivíduo. Tarefa propriamente relegada à biologia, abordar a alma como se aborda a noção biológica de “vida” (Bernard 1973/1974, p. 23). Constitui-se à psicologia, enquanto ciência que positivamente não pode adquirir um status de “ciência do sujeito” – e assim, adquirir sua especificidade, irredutível à biologia –, um dilema considerado insuperável:

Ou a psicologia pretende manter sua especificidade epistemológica, entrando assim em choque com a metafísica e com o discurso literário; ou então submete seu objeto ao método positivo, e converte-se em ciência da natureza, não sendo mais ciência do sujeito (Bernard 1973/1974, p. 23).

Como ocorre na afirmação anterior entre o debate psicanálise/psicologia científica feita por Abib, e no gesto de Wundt que estabelece sua Völkerpsychologie, no momento mesmo em que a psicologia atinge sua especificidade como ciência do sujeito – como disciplina que aborda as funções mentais superiores –, a ausência de um método positivo frente à consciência lhe confere um choque em relação à metafísica e ao discurso literário; porém, se a psicologia recua e insiste no método das observações exteriores, na mensuração e na experimentação, constituindo-se assim como “ciência”, constata-se a impossibilidade de dar conta rigorosamente das funções superiores, ao mesmo tempo em que a própria irredutibilidade frente à biologia é contestada.

Esse dilema em que a psicologia se situa entre o homem como fruto de natureza ou produto de uma cultura lhe confere um estatuto ambíguo, a partir do qual toda a dispersão da psicologia do fim do século XIX se assenta. A história da psicologia seria a “do conflito entre dois estilos de pensamento aparentemente antinômicos”, nos quais essa disciplina se dissolveria em “naturalismos” ou “humanismos”,3 ou ainda se oporiam (e se distribuiriam) em numerosas considerações também antinômicas: métodos mecanicistas ou finalistas, analíticos ou holistas, explicação ou compreensão, organicismo ou historicismo, etc.. De modo que, mesmo frente à psicologia emergente do século XIX, mais do que unidade, facilmente se detecta sua dispersão em numerosas outras “psicologias”.

Por conseguinte, a especificidade (e a unidade) da psicologia é ameaçada por um dilema essencial que se constitui pela oscilação das disciplinas diante da tensão entre duas perspectivas. Outros “perigos”, porém, são encontrados pela psicologia frente à pretensão de sua unidade: primeiramente, a heterogeneidade das origens das várias psicologias, já que essa jovem disciplina não surgiu como um projeto unitário ou de um consenso entre pesquisadores; em segundo lugar, a partir do momento em que o psicólogo se pretende como um cientista das funções mentais superiores, tem contra si sua própria linguagem, uma vez que abordaria as significações humanas com suas próprias significações, já estabelecidas. Contra esse dilema, e esses perigos, a própria história da psicologia ensaiou (e ensaia) tentativas de resolução, que vão desde a uma unificação de domínio até à pura aceitação da psicologia como uma multiplicidade de disciplinas em diferentes estágios de desenvolvimento.

A primeira opção (a de unificação de domínio) é ilustrada sobretudo com um caso paradigmático na história da psicologia: o projeto behaviorista, a partir de Watson. Para ele, o comportamentalista não reconheceria linha divisória entre o homem e os animais inferiores; assim, não haveria uma ênfase na introspecção como método por excelência da psicologia, já que a noção de consciência admitiria uma divisão entre homem/animal. As psicologias comparadas não se delimitariam para Watson apenas como disciplinas secundárias, a partir das quais os dados elementares extraídos do experimento com animais seriam apenas secundários, ou meios indiretos de analogia para pressupor dados complexos da consciência. O dado elementar adquire importância por si só, fora da esfera comparada. Em Watson, chegou à psicologia o momento crucial de “afastar toda a referência à consciência; em que já não precisa se iludir ao pensar que faz dos estados mentais o objeto de observação” (Watson 1913, citado por Boring & Hernstein, 1966/1971, p. 632).

Se a psicologia não obtém sucesso, em Watson é porque algo está errado com suas premissas e com os problemas decorrentes delas. E mais, ao serem vários psicólogos perguntados sobre o mesmo conceito, de cada um será obtida uma definição, devido às respectivas formações diferentes,5 outro problema de unidade da psicologia. Dessa forma, conceitos inapropriados e sem consenso como “consciência”, “mente” e “processos mentais” deveriam ser trocados por “estímulos e respostas”, “ajustamento”, “comportamento” e “hábito”. Nesse sistema ligado à psicologia comparada, os próprios dados objetivos é que “constituem a soma total da psicologia”; isto é, não seriam dados secundários a outros conceitos pressupostos (consciência, mente, etc.) e operacionalmente inatingíveis. Situação em que a psicologia do animal poderia desempenhar papel fundamental, ou mesmo seguir seu desenvolvimento à parte. Pelas noções de comportamento e de ajustamento, prevendo como o comportamento se estabelece e se desencadeia por estímulos e respostas, a psicologia poderia novamente unificar-se, ou insistir na discórdia e manter-se duzentos anos ainda dividida entre seus pré-conceitos destoantes.6


Esboça-se, portanto, um projeto no qual novamente a psicologia poderá, sob o novo caráter unificador do comportamentalismo, atingir o rigor de seus conceitos, de seus objetivos e de seu método, de forma compartilhada e organizada. Sob um caráter restritivo outorgado às outras possíveis psicologias, o behaviorismo evitaria a recaída da investigação a realidades não observáveis, viciadas por conclusões “metafísicas”. Porém, a própria história da psicologia aponta a insuficiência: uma seqüência mais proveitosa ocorreria ao behaviorismo watsoniano caso a negação (metodológica ou mesmo real) do conceito de consciência não fosse tão somente restritiva, e apontasse a soluções metodológicas efetivas. Em outras palavras, caso as análises em termos de adaptações e de predição em esquema S-R demonstrassem eficácia tanto para problemas da esfera animal, quanto humana. Sabe-se que, dado um estímulo S, em determinadas situações (como a de uma “alfinetada”), pode-se predizer uma resposta (como a sensação de dor); porém, em situações em que a resposta é, por exemplo, uma explanação verbal ou de âmbito emocional, torna-se inviável antever uma relação estrita entre um dado estímulo e uma dada resposta. Como no esquema de Wundt, apenas processos elementares – no caso, em Watson processos da alçada de uma psicologia animal – poderiam ser atingidos pelo método behaviorista. Portanto, permaneceria o problema relativo aos comportamentos mais complexos.

Bernard (1973/1974, p. 36) chama atenção ao fato de que, ao buscar eliminar um dualismo, Watson acaba criando outro: substitui “a dualidade da alma e do corpo pela do organismo e do meio”, fator que reduziria o comportamentalismo a um instrumentalismo. Do mesmo modo, a negação metodológica do conceito de consciência não pôde dar conta por si mesma de uma análise dos comportamentos mais complexos encontrados no homem (como vimos).

Uma outra tentativa conhecida de estabelecer um panorama entre as diferentes perspectivas psicológicas para daí tentar adquirir uma unidade provém não de um detrator da noção de consciência, mas de um entusiasta: Vygotsky, em um texto de 1926 (perdido até a década de 60 segundo Luria 1992, p. 45), estabelece um novo panorama da psicologia, para daí buscar novas possibilidades.

Para Vygotsky (1926/1999), a psicologia sofria de uma crise metodológica. Tal era a precariedade dessa disciplina que, citando Espinosa, referiu-se a ela como um estado de consciência que ocorre a “um doente que sofre de uma enfermidade letal, [que] prevendo a morte certa se não empregar determinado remédio, sente-se na contingência de procurá-lo, ainda que incerto, com todas as forças, pois que nele está sua única esperança” (Vygotsky 1926/1999, p. 228).

Faltava à psicologia uma unidade norteadora, a partir da qual os pesquisadores pudessem coordenar os dados pesquisados e sistematizar leis dispersas. Para isso o problema de uma psicologia geral (ou mesmo de uma “psicologia básica”) passaria a ser fundamental, como um remédio a partir do qual todos os outros dados deveriam ser agrupados. Haveria a necessidade de um “princípio explicativo”, pois “precisamente porque esse princípio falta e não existe que alguns princípios parciais ocupam seu lugar” (Vygotsky 1926/1999, p. 228). Princípios parciais estes que adviriam das antagônicas psicologias que tomam como critério de análise uma certa média de normalidade (tomemos como critério de análise uma média normal, como na psicometria, ou que todos os homens possuem patologias, como na psicanálise?); dos sistemas baseados na oposição homem/animal (os dados da psicologia animal são o ponto de partida para a elucidação do homem? Ou figuraria nas “formas superiores a chave da interpretação das inferiores”? (ib., p. 206); ou das teorias que pressupõem que o fundamento da psicologia residiria nos “fenômenos psíquicos” (para a psicologia tradicional), no comportamento (para a reflexologia) ou no inconsciente (para a psicanálise) (ib., p. 213). Para além desses princípios parciais, a “psicologia geral” deveria dar conta do que é geral a todos os homens, da mesma forma que o que é geral na botânica ou na zoologia estuda o que há de comum em todas as plantas e todos os animais. Dentro de todo o caos dos fenômenos pesquisados isoladamente, deveria-se estabelecer um “conceito abstrato e comum para todas as disciplinas psicológicas”, conceito que permita responder a séria pergunta sobre o que é que a psicologia como ciência geral (e não como amontoado de disciplinas particulares) estuda (ib., p. 212-213). Retomando, deve haver uma unidade que dê sentido a cada domínio, pois se cada uma das disciplinas particulares figurar como disciplina geral, a oposição entre as teorias tende a um valor nulo:

Esses destinos, tão semelhantes como quatro gotas da mesma chuva, arrastam as idéias pelo mesmo caminho. O volume do conceito aumenta e tende ao infinito e, de acordo com a conhecida lei da lógica, seu conteúdo tende com idêntica celeridade a zero. Cada uma dessas idéias é, no lugar que lhe corresponde, extraordinariamente rica quanto a seu conteúdo, está cheia de significado e sentido, está plena de valor e é frutífera. Mas quando as idéias se elevam à categoria de leis universais passam a valer o mesmo, tanto umas quanto as outras são absolutamente iguais entre si, isto é, simples e redondos zeros; a individualidade de Stern é para Békhterev um complexo de reflexos, para Wertheimer uma Gestalt e para Freud sexualidade. (Vygotsky 1926/1999, p. 227).

Isto é, para Vygotsky não haveria valor algum disciplinas parciais dentro de uma pretensa ciência sem uma unidade que lhes dê coerência; qualquer uma poderia ser reduzida à outra, e no mesmo movimento as explicações são mais incompatíveis que complementares. Tais problemas não parecem ter sido resolvidos, dada a nulidade resultante entre diferentes disciplinas em dispersão, e que persiste até a atualidade. Seria injusto com a história da psicologia situar essa tensão [É ciência? É psicologia?] apenas com relação à psicanálise. Ela também ocorreu nos redutos da própria psicologia científica. A existência simultânea de behaviorismo, gestaltismo, construtivismo e psicologia cognitiva implica programas diferentes de pesquisa. Isso significa que não há identidade de interesses intelectuais, objetos, métodos e teorias nesses programas. Essas diferenças produziram tensões entre eles, com conseqüências similares àquela entre psicologia e psicanálise. Por exemplo, por várias vezes se perguntou se o behaviorismo é psicologia ou se o construtivismo é ciência. (Abib 1996, p. 144).

Recordando William James, que em 1911 teria dito que “a psicologia ainda não é uma ciência, mas algo que promete ser ciência no futuro”, e Spearman, que repete as mesmas palavras de James em 1923, afirmando que a psicologia seria apenas “uma esperança de ciência” (Vygotsky 1926/1999, p. 402-403), a situação encontrada por Vygotsky é a de que “essa psicologia de que falamos ainda não existe; terá de ser criada e não por uma só escola” (ib., p. 417). A psicologia ainda terá para Vygotsky (como para James) seus gênios e investigadores modestos, mas de seu trabalho conjunto ainda surgirá algo que seja precisamente psicologia, una e específica.

Não se trata aqui de remetermos o texto a uma análise exaustiva da especificidade, da complexidade e das pretensões de cada domínio argumentativo (como o de Wundt, de Comte, de Watson ou de Vygotsky). Para isso, a análise exigiria um estudo detido de vários outros projetos de psicologia, bem como da situação dessa disciplina na segunda metade do século XX. Entretanto, os pontos elencados permitem levantar um território comum a tais discussões, recorrentes nas psicologias dos séculos XIX/XX. Debate que se apresenta como co-extensivo à própria existência de um projeto de psicologia, e que permanece até a atualidade: o problema de sua dispersão em um campo que se situa entre dois domínios diversos, de um extremo que conduz ao primado do conceito de “funções mentais superiores”, a outro que admitiria uma continuidade entre homem e animal, de forma que uma analogia de complexidade de processos simples poderia ser generalizada a processos “superiores”; o problema de sua undade, ou de como um grupo de disciplinas heterogêneas “parciais” (no termo de Vygotsky) pode adquirir o reconhecimento de um único corpo científico; o problema do critério para o estabelecimento dessa unidade (ou mesmo da recusa dessa unidade); a questão da especificidade do domínio psicológico; o problema da complexidade do objeto da psicologia, o Homem, ser que é por um lado produto determinado por uma natureza, e por outro possui uma autonomia no mundo como ser de cultura, cercado por determinações que o atravessam, e ao mesmo tempo possuidor de uma consciência que permite delimitar essas determinações; e problemas metodológicos que decorrem diretamente desse objeto “complexo” e “fugidio”.

Levantar e elencar problemas que permanecem constitutivos nos debates entre as diferentes psicologias parece, desde seus principais formuladores, uma tarefa importantíssima para o psicólogo na relação com seu campo de estudo. O próprio Luria, falando sobre Vygotsky, chama atenção ao fato de que, para o início de seu trabalho conjunto, empreendeu uma “revisão crítica da história e do status da psicologia na Rússia e no resto do mundo” (Luria 1992, p. 44). Dessa revisão crítica é que suas considerações avançaram com Vygotsky, rumo às psicologias sócio-interacionistas e à neuropsicologia soviética. Estas adquiriram considerável sucesso, juntamente com ciências como o behaviorismo radical, na tentativa de resolver esses embates. Mas a dispersão persistiu, e uma série de questões, no seio de todos esses debates, e dentro da psicologia em sua busca de seu rigor e especificidade, aparecem: A pergunta de Vygotsky, sobre se algum dia a psicologia poderia ser chamada de “a psicologia”, poderia ser num futuro vindouro afirmada positivamente? Dadas tantas antinomias, tão comuns no debate entre diferentes psicologias, teriam elas possibilidade de resolução? E mais, a própria psicologia, motivada ela mesma por essas antinomias na busca de sua resolução, poderia internamente responder o problema que move sua própria existência? Conseguiria a psicologia dobrar-se sobre si mesma para dar conta, em sua condição de dispersão, das próprias condições que a constituem enquanto dispersa?

O debate aqui fica acirrado, e as tentativas melhor sucedidas de uma resolução interna permanecem nas descrições dos epistemólogos. Em meados do século XX, buscando elucidar os princípios discordantes da psicologia, Georges Canguilhem afirma que, sem uma antropologia ou um viés filosófico que a sustente (enfim, um princípio de coerência), não se pode impedir “a quem quer que seja de se chamar psicólogo ou de chamar de psicologia o que ele faz”. Por outro lado, essa situação confusa não pode impedir a contrapartida do filósofo, de interrogar sobre o estatuto “mal definido da psicologia, tanto do lado das ciências, quanto das técnicas” (Canguilhem 1956/1975, p. 380). Tanto o problema da complexidade do homem, quanto da dispersão da psicologia, abre a dúvida sobre seu próprio estatuto, de ciência que interpõe conceitos sem um princípio geral unificador, a uma prática que também (pela dispersão conceitual) se finaliza contraditória. Daí, para Canguilhem, por ser ciência do homem, a psicologia situar-se na encruzilhada: deve decidir-se no caminho que vai desde a coerência conceitual, ao perigo de responder sobre o que faz (“dizei-me em que direção tendes, para que eu saiba o que sois?”, ib., p. 381).

Entre o problema conceitual, e a incerteza da prática, um outro autor elabora ainda em 1957 uma possível resposta, na qual o convite à análise epistemológica seria transpassado por outro tipo de análise. Perspectiva não epistemológica, e, portanto, de certo modo exterior a esses debates, por não exigir a princípio o critério da ciência como arquitetura conceitual fechada e formalizada. Trata-se de Michel Foucault, que ao analisar a psicologia de 1850 a 1950 em um pequeno artigo, encontra algo como contradições no mesmo nível das enunciadas acima, e pergunta-se:

Porém, a interrogação fundamental permanece. Nós mostramos, no início, que a psicologia “científica” nasceu das contradições encontradas pelo homem em sua prática, e que, por outro lado, o desenvolvimento dessa “ciência” consistiu em um lento abandono do positivismo que a alinhava, no início, com as ciências da natureza. Esse abandono e a análise nova das significações objetivas puderam resolver as contradições que o motivaram? (Foucault 1957/1999, p. 138).

A resposta para Foucault foi negativa, já que a saída das psicologias melhor sucedidas foi projetar essas ambigüidades, que não foram resolvidas, à própria existência humana: nas formas atuais da psicologia reencontramos essas contradições sob o aspecto de uma ambigüidade que se descreve como coextensiva à existência humana. Nem o esforço em direção à determinação de uma causalidade estatística, nem a reflexão antropológica sobre a existência podem ultrapassá-las realmente, quando muito, podem esquivar-se delas, quer dizer, encontrá-las finalmente transpostas e travestidas. (ib., p. 138-139).

A forma mesma sob a qual a psicologia encontra a existência humana parece, portanto, uma projeção dessas contradições enunciadas pela própria psicologia na formulação de seu projeto. Em outras palavras, e no limite, se a psicologia postula de um lado um homem “complexo”, fruto de determinações naturais e culturais, de outro lado constata, projetando o próprio problema de princípio, que o homem é um objeto complexo por ser “bio-psico-social”. Tais contradições projetadas animariam o movimento da psicologia no mesmo movimento em que a tornam “dispersa”. Contradições cuja resolução exigiria que a própria psicologia se dobrasse sobre si mesma e desse conta do debate que a faz persistir. Tal dobramento, entretanto, parece impossível, já que não se pode dar conta do que move uma questão utilizando esse próprio movimento como instrumento de resolução. A cargo da psicologia, sobre seu futuro, restaria efetivamente “levar a sério essas contradições, cuja experiência, justamente, fez [nascê-la]” (ib., p. 139). Ao levar a sério essas contradições, a resposta encontrada por Foucault é que “por conseguinte, não haveria desde então psicologia possível senão pela análise das condições de existência do homem e pela retomada do que há de mais humano no homem, quer dizer, sua hisória” (ib., p. 139, grifo meu). Como sustentará o próprio Foucault já no contexto de História da Loucura, e obedecendo a problemas decorrentes de seu primeiro grande livro, não será em um jogo interno à disciplina que os fenômenos psicopatológicos encontrarão sua condição de existência. Será “em outra parte”, na história, que as condições de surgimento da doença mental e da psicologia poderão ser encontradas, e elucidadas (1962/1984, p. 71). Uma análise dessa história - que não é mais a história de uma disciplina particular (“psicologia”), mas a história de como o homem pôde em algum momento tornar-se ao mesmo tempo sujeito e objeto de conhecimento, algo sobre o que se pode saber, ao mesmo tempo em que funda todo o conhecimento – e do modo como Foucault analisa essa história (ou seja, de sua arqueologia do saber, e da relação da arqueologia com o pensamento epistemológico e histórico propriamente dito) torna-se necessária. Isso por dois motivos: primeiramente demonstra como a psicologia é uma figura ao lado de outras figuras da finitude moderna, tributária de seus jogos; e em segundo lugar, demonstra como apenas essas contradições, frutos de um certo “desnível” do homem na relação consigo mesmo (o desnível de sua disfunção, de sua anormalidade, de seus desvios, etc.), é que podem tornar possível um saber como a psicologia. Levar a sério a análise foucaultiana da modernidade (que visa essencialmente as condições de possibilidade dos saberes) é perguntar-se sob que condições um saber sobre o homem pôde ser constituído. Dentro dessas condições é que o homem pode ser “detectado” em suas contradições, por uma ciência humana, ou por uma psicologia.

Referências Bibliográficas:

ABIB, J. A. Damásio (1996). O legado da psicologia, fin-de-siècle. In Revista de Humanas da UFPR, 5, p. 139-158. Curitiba: Ed. da UFPR. BERNARD, Michel (1974) “A psicologia”. In CHATELET, F. História da filosofia – idéias, doutrinas (Vol. VII – A Filosofia das Ciências Sociais). Rio de Janeiro: Zahar Editores. Original de 1973. BORING, Edwin G. & HERRNSTEIN, Richard J. (1971). Textos Básicos de História da Psicologia. São Paulo, Editora Herder/ Editora da USP. Original de 1966. CANGUILHEM, Georges (1975) Qu´est-ce que la Psychologie? In Éudes d´Histoire et de Philosophie des Sciences. Paris, Vrin. Conferência originalmente ministrada em 1956. COMTE, Augusto (1996). Curso de Filosofia Positiva. (Col. Os Pensadores). São Paulo: Nova Cultural. FOUCAULT, Michel (1999). A Psicologia de 1850 a 1950. In Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria, Psicanálise (Ditos e Escritos, vol. I). Rio de Janeiro: Forense Universitária. Original de 1957. _______ (1984) Doença mental e psicologia. Rio de Janeiro: Tempo Universitário. Original de 1962. GARCIA-ROZA, L. Alfredo (1977). Psicologia: um espaço de dispersão do saber.In Revista Radice, 4, ano I. Rio de Janeiro. LURIA, Alexander R. (1992). A construção da mente. São Paulo: Ícone. MARX, Melvin & HILLIX, William (1993). Teorias e sistemas em psicologia. São Paulo: Cultrix. Original de 1973. Revista AdVerbum 2 (2) Jul a Dez de 2007: pp. 128-136. Marcio Luiz Miotto Revista AdVerbum 2 (2) Jul a Dez de 2007: pp. 128-136. 136 VYGOTSKY, Lev (1999). O significado histórico da crise da psicologia. In Teoria e método em psicologia. São Paulo: Martins Fontes. Original de 1926. WUNDT, Wilhelm (1907). Lectures on Human and Animal Psychology. Tradução de J. E. Creighton e E. B. Titchener. New York, MacMillan (original de 1894). http://www.archive.org/details/lecturesonhumana00wund (acessado em 1/9/2007).

______ (1897). Outlines of Psychology. In Classics in the history of Psychology, an internet resource developed by Christopher D. Green. York University, Toronto, Ontario. http://psychclassics.yorku.ca/Wundt/Outlines/ (acessado em 1/9/2007) Notas 1 Esse é um ponto deveras problemático. Dependendo do ‘recorte’ escolhido por cada historiador (geralmente, recortes de historiadores continuístas), pode-se encontrar alusões a outros autores como os inauguradores da psicologia, como Fechner, ou os egípcios, ou menções a Sócrates, etc.. Denota-se o caráter arbitrário desses ‘recortes’ por esse tipo de historiador. 2 Como frisam enfaticamente historiadores como Garcia-Roza (1977, p. 21) e Michel Bernard (1973/1974, p. 22); ou mesmo o próprio Comte (1996), quando trata da introspecção como “pura ilusão”, como um “sofisma fundamental” (p. 34), ou como “impossibilidade manifesta” (p. 36) de uma observação do homem de seus próprios fenômenos intelectuais. Cf. Comte (1996, p. 34-41). 3 Como afirma Bernard (1973/1974, p. 25), a partir de considerações de Lagache. 4 Cf. Bernard (1973/1974, p. 28) 5 “Já não existe qualquer garantia de que todos pensamos nas mesmas coisas quando usamos os termos atualmente em uso na psicologia (...)” (Watson, citado por Boring & Hernstein 1966/1971, p. 632). 6 “Acredito firmemente que daqui a duzentos anos, a não ser que se afaste o método introspectivo, a psicologia ainda estará dividida (...)” (Watson, citado por Boring & Hernstein 1966/1971, p. 633).
Artigo recebido em 27/09/2007 e aprovado em 10/12/2007.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A MATURIDADE MORA NA ESCUTA

Todos têm algo a nos ensinar.

Todo ser humano traz em si uma profunda necessidade de autoafirmação. Todos desejam a valorização por parte dos demais, porém, essa necessidade – de ser aceito e de se afirmar diante da vida – precisa trazer em si certa medida de equilíbrio e maturidade, pois, quando não é assim, tendemos a agir puramente aprisionados por nossos instintos.

Todo o mundo quer ser acreditado, todos querem ter a razão e a verdade em sua conduta. Por vezes, queremos que nossa maneira de pensar seja acolhida pelos demais, mas, precisamos ter a consciência de que nem sempre estamos certos e de que não podemos exigir que nosso modo de pensar seja acolhido por todos como verdade absoluta.

As grandes catástrofes da humanidade se deram quando alguém ou um grupo específico se fecharam apenas em um ponto de vista isolado, não se abrindo a outros focos de visão e acreditando ser os únicos donos da verdade.

Muitos são peritos em defender a própria verdade, mas, verdadeiramente maduro é aquele que sabe ouvir e acolher o ponto de vista dos outros, abrindo-se ao diálogo e reconhecendo que os demais também têm coisas boas a ensinar e a oferecer, e, que, por essa razão, merecem ser respeitados.

Todos têm algo a nos ensinar, o ponto de vista alheio contempla realidades não percebidas por nós.

É feliz quem sabe ouvir e acolher o que outro expressa, pois tal atitude faz com que sejamos pessoas mais completas, rompendo assim as barreiras do egoísmo, as quais nos fazem acreditar que somente nós estamos certos.


Ouvir é uma virtude e, por meio do diálogo, alcançamos grandes progressos.

A vitória mora na humildade, que sabe abrir mão de suas próprias razões, para que o outro seja um pouco mais, assim o consenso acontece e ambas as partes são capazes de crescer. Quem sabe perder e ceder nas pequenas coisas, conquistará grandes realizações. Compreendamos isso e construiremos significativas conquistas em nossa história.



Por :
Kelle Gardênia R.J


kellegardenia@hotmail.com


Psicopedagoga, graduanda em psicologia (6º período)